Calendário do advento: um produto que vende antes mesmo de existir
Uma tendência global que virou um fenômeno de branding, desejo e ROI. Seja para vender mais, gerar buzz ou criar uma experiência memorável de fim de ano. LEGO, Liberty, Dior, Disney, Selfridges, Sephora, Rituals, Westwing. Todas apostam — e muita edição esgota rápido.

A força dessa estratégia está em como ela combina gatilhos de comportamento, desejo e pertencimento.
O calendário do advento deixou de ser apenas um presente ou lembrança natalina. Hoje, ele é uma estratégia poderosa de marketing e branding usada por marcas de luxo, beleza e lifestyle para gerar desejo, recorrência e engajamento — especialmente nas campanhas de fim de ano.
Seja para vender mais, gerar buzz ou criar experiências memoráveis, marcas como LEGO, Liberty, Dior, Disney, Selfridges, Sephora, Rituals e Westwing apostam no formato. E o resultado é claro: muitas edições esgotam em minutos.
De presente a estratégia: o calendário do advento como ferramenta de branding
Mais do que uma embalagem sofisticada, o calendário do advento é um ritual de marca. São 24 dias de storytelling, design e emoção, em que cada abertura reforça o valor, o propósito e a lembrança da marca. A experiência cria uma relação emocional com o consumidor — que deixa de ser apenas comprador e passa a ser participante de uma história.
Em 2024, o mercado global de calendários do advento ultrapassou US$ 1,87 bilhão, e deve chegar a US$ 3,74 bilhões até 2032, segundo dados da Kantar e da Vogue Business.
Um crescimento sustentado pelo cruzamento entre design, escassez, emoção e experiência.
Enquanto o calendário do advento já movimenta milhões na Europa e nos EUA, no Brasil esse formato ainda é uma oportunidade pouco explorada.
Mas afinal, por que o calendário do advento virou desejo e vende tanto?
Durante muito tempo, o calendário do advento foi apenas um símbolo natalino infantil. Uma brincadeira de 24 dias, com janelinhas numeradas e chocolates escondidos, que marcava a contagem até o Natal. Mas as marcas perceberam algo que mudou o jogo: o valor não estava no conteúdo, mas no ritual. E quando esse ritual é bem desenhado, ele vira um dos formatos mais completos que existem para criar engajamento, percepção de valor e desejo.
Em 2025, vimos de tudo. Red Bull lançou um calendário com 24 sabores exclusivos de energéticos e esgotou nos Estados Unidos. Diptyque manteve seu advento como objeto de arte e design, com 25 portas e curadoria visual obsessiva. Fly by Jing transformou o calendário em uma viagem sensorial pela China, enquanto o Burger King virou case viral com seu “mini Whopper advent calendar”. De luxo a fast food, o formato se provou versátil, potente e — talvez o mais importante — emocionalmente eficaz. No Brasil, vimos empresas como O Boticário apostando nessa estratégia,
O sucesso dos calendários de advento não está apenas no que eles entregam, mas na forma como entregam. Eles funcionam porque ativam gatilhos profundos de comportamento: antecipação, escassez, recompensa, ritual, surpresa. Mas, mais do que isso, eles funcionam porque se conectam com a vontade das pessoas de transformar o fim do ano em algo que tenha significado. E do ponto de vista de marca, isso é ouro puro. Abaixo, os cinco motivos que tornam esse formato uma das estratégias mais inteligentes do marketing atual.
1. Pré-venda antecipada
O primeiro é a possibilidade de pré-venda antecipada. Diferente de outros produtos sazonais, o advento não precisa estar pronto para começar a gerar receita. Pelo contrário: a pré-venda é parte da estratégia. Ela valida interesse, antecipa fluxo de caixa e cria escassez antes mesmo da produção. Marcas como Sephora e Liberty trabalham com listas de espera e contagem regressiva para o lançamento. E quando o calendário chega, muitas vezes já está esgotado. Vender antes de produzir deixa de ser risco e passa a ser argumento.
2. Valor percebido alto
O segundo ponto é o valor percebido. Mesmo quando o custo real dos produtos dentro da caixa é baixo — muitas vezes composto por miniaturas, brindes ou excessos de estoque — a forma como ele é apresentado faz toda a diferença. Uma caixa bonita, numerada, pensada para abrir um item por dia, com curadoria e design, transforma a percepção do consumidor. A entrega em doses, o suspense, a estética — tudo isso aumenta o valor simbólico do que está sendo comprado. Não é apenas um produto. É uma experiência fragmentada no tempo, que prolonga o prazer de consumir.
3. A experiência da contagem
O terceiro motivo está justamente aí: a experiência da contagem. O que mais fideliza alguém a uma marca não é uma grande ação pontual, mas sim uma presença consistente. O advento é isso. Ele cria um momento de contato diário, uma pausa programada, uma pequena surpresa que sustenta a atenção. Abrir uma portinha por dia, esperar pelo próximo item, especular o que vem depois — tudo isso constrói envolvimento emocional. Quando bem feito, o calendário vira quase uma narrativa interativa. E o cliente, um personagem dentro dessa história.
4. Escassez real
A quarta razão é a edição limitada real. O advento não foi feito para durar. E essa é justamente sua força. Não existe “advento de linha fixa”. Ele é pontual, sazonal, exclusivo. E por isso mesmo, colecionável. Marcas como Byredo, Diptyque, Fly by Jing e Lookfantastic se aproveitam disso para transformar cada ano em uma edição única — com novos visuais, novas colabs, novos temas. A escassez deixa de ser truque e vira parte da proposta. Quem compra, sabe que aquilo não vai voltar. E isso gera não só urgência, mas pertencimento.
5. Cabe em muitas categorias
Por fim, o quinto ponto talvez seja o mais estratégico de todos: o advento pode ser adaptado para praticamente qualquer categoria. Já não é mais um território da beleza. Em 2025 vimos calendários de snacks, vinhos, café, joias, brinquedos, papelaria, suplementos. Vimos versões de 12 dias, 24 dias, digitais, físicas, colaborativas. O que define um bom advento hoje não é o segmento — é a intenção. Se sua marca tem um universo próprio, uma narrativa e produtos que podem ser divididos em momentos, você tem o que precisa para criar um.
E aqui vale um adendo: no Brasil, essa é uma oportunidade praticamente em aberto. O mercado ainda trata o advento como curiosidade importada, quando lá fora ele já é ferramenta fixa de calendário comercial. Enquanto as grandes marcas brasileiras investem em ações de Black Friday, muitas vezes genéricas e pouco memoráveis, o advento oferece uma chance de criar algo mais duradouro: uma campanha que entrega produto, conteúdo e branding ao mesmo tempo. Uma campanha que vira presente — e presença.
Não precisa ser grande. Não precisa ser caro. Precisa ser bem pensado. Com curadoria, narrativa e entrega. Pode começar com o que você já tem em estoque, com uma tiragem pequena, com uma lista de pré-venda. Pode ser digital, físico, colaborativo, sensorial. O que importa não é o formato — é o que ele representa.
No fim do ano, todo mundo está buscando um motivo para sentir algo. O calendário do advento é uma forma estratégica de oferecer exatamente isso: valor, vínculo e vontade de repetir.
Key Insights
A força dessa estratégia está em como ela combina gatilhos de comportamento, desejo e pertencimento.
Entre os principais fatores de sucesso estão:
- Storytelling + experiência + colecionabilidade: cada caixa é um microcapítulo da marca.
- Escassez e valor percebido: o consumidor sente que está adquirindo algo exclusivo.
- Recorrência anual: o formato cria expectativa para as próximas edições.
- Conteúdo gerado pelo usuário (UGC): o unboxing se transforma em mídia espontânea.
- Consumo com significado: o produto vira parte da cultura da marca.





